sexta-feira, 27 de julho de 2012

Cientistas do Japão se arriscam para estudar efeitos da radiação

                                      
Cientistas decidiram enfrentar um risco que pouca gente aceitaria correr: enfrentar a radiação de uma usina atômica que tinha acabado de explodir. Eles são alguns dos maiores especialistas do Japão em acidentes nucleares. Reuniram em um carro equipamentos de medição de radioatividade e rumaram em direção à Usina de Fukushima. O objetivo era fazer um mapa completo da contaminação. No caminho, registraram tudo em vídeo para um documentário da NHK, emissora que está sendo homenageada pela Mostra VerCiência, e que está sendo apresentado pela primeira vez fora do Japão. 

Dia 11 de março: o nordeste do Japão foi cenário de um terremoto seguido de tsunami. As ondas avançaram até 10 quilômetros continente adentro. Destruindo o que encontravam no caminho. O pior aconteceu na Usina Nuclear de Fukushima. O tsunami danificou o sistema de resfriamento dos reatores nucleares. Superaquecidos, eles começaram a explodir. O reator 1 explodiu no dia 12 de março. Dois dias depois, foi a vez do reator 3. No dia 15, o reator 2 foi pelos ares. 

Quando pegaram a estrada rumo à usina, os cientistas se deparavam com filas de carros de pessoas sendo evacuadas. Os aparelhos usados nas medições foram criados pelo professor Masaharu Okano. Aos 85 anos, ele é um dos mais respeitados - e corajosos - pesquisadores de acidentes nucleares. 

O professor Okano conta era uma sensação estranha. "Víamos cidades desertas, casas e prédios vazios. Senti como se fosse Chernobyl novamente", conta. Em 1986, o professor Okano participou das equipes que estudaram o acidente de Chernobyl, na atual Ucrânia, o maior desastre nuclear da história. 

A reportagem do Fantástico foi até a cidade de Kamakura, que fica a 300 quilômetros da Usina de Fukushima. Logo depois da explosão, o nível de radioatividade na sala do professor triplicou. E hoje, mais de sete meses depois, é de 20% a 30% acima do normal. Mesmo assim, ele garante que não há nenhum risco. 

Enquanto viajavam, eles recolhiam amostras de solo e de plantas para medir a contaminação. Descobriram que a radiação se espalhou de forma irregular. Os ventos naqueles dias, logo depois das explosões, levaram a radiação para o sul, em direção a Tóquio, e depois para o noroeste, onde a chuva e a neve contaminaram o solo. 

O governo japonês estabeleceu uma zona de exclusão de 30 quilômetros da usina. Mas algumas cidades fora dessa área foram muito contaminadas. Na viagem, o grupo encontrou um abrigo para a população, que deveria ser um lugar seguro. Mas os níveis detectados pelos cientistas estavam até 840 vezes mais altos do que o normal. 

Os cientistas encontraram cachorros e gatos deixados para trás pelos moradores. E deram comida para eles. O Fantástico pergunta se eles não se expuseram a níveis perigosos de radiação. 

“Claro que o nível nesses locais estava acima do normal, mas não permanecemos durante muito tempo”, respondem. 

No final do documentário, os cientistas chegam até as portas da usina. Funcionários os mandam dar meia volta e ir embora. O risco ali, sim, era muito grande. 

A queda nos níveis de contaminação fez as autoridades permitisse a volta de 30 mil pessoas para suas casas. Mas a radiação ainda provoca medo nos japoneses. Na semana passada, foram encontrados três focos em Yokohama, cidade vizinha a Tóquio. O que mais preocupa quem vive no Japão é a sensação de não saber até onde chegou a contaminação e os riscos que isso representa. São dúvidas que, com coragem e determinação, estes cientistas tentam responder. 

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